quinta-feira, 28 de março de 2019

100 anos de CTMR


100 anos CTMR


Um dos empreendimentos mais importantes da história de Pelotas completa cem anos de fundação no dia 20 de março de 2019.
Como um de seus ex-presidentes, não poderia deixar passar esta data sem relembrar os fatos ligados à Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência, muitos dos quais guardo na memória por ter vivenciado, ou por ter ouvido relato de protagonistas da fundação, tais como o Dr. Bruno de Mendonça Lima, o ex-diretor Sr. Manoel Rodrigues Gomes e o acionista Sr Ari Xavier.
Esta é uma história de pioneirismo e vanguarda que mostra bem o espírito público de lideranças de nossa cidade no início do século 20.
A segunda metade do século XIX viu surgir a invenção do telefone, que logo começou a ser instalado em todo o mundo. O Brasil, graças ao espírito progressista de D. Pedro II, foi dos primeiros países do mundo a usufruir deste avanço, sendo que,já em 1877,o Rio de Janeiro passou a contar com esta inovação, a qual chegou a Pelotas em 1888, através da União Telefônica.
Nos anos de 1918 a 1919, o serviço telefônico em nossa cidade era explorado pelo uruguaio Juan Ganzo Fernández, através de sua Companhia Telephonica Rio-grandense, que também explorava o serviço telefônico em Porto Alegre e vinha comprando os serviços telefônicos de muitas cidades do Rio Grande do Sul. Nesta época, o coronel Ganzo, como também era chamado, aumentou as tarifas do serviço, tendo com isto causado descontentamento dos usuários da cidade, que reivindicaram a baixa nos preços e a melhoria da qualidade. A resposta do coronel Ganzo, foi de “que não iria baixar o preço e que nem faria as melhorias pretendidas”, ao que foi-lhe dito, “que iríamos fundar uma companhia telefônica própria”, tendo este replicado “que poderiam fazê-lo, pois acabariam sendo encampados por ele”.
Desta conversa surgiu o nome de Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência - CTMR, pois se pretendia instalar um serviço de melhor qualidade e resistir a uma eventual encampação por parte do coronel Ganzo. Assim, em 20 de março de 1919, foi fundada na Associação Comercial de Pelotas a nossa telefônica, sendo os primeiros estatutos elaborados pelo Dr. Bruno de Mendonça Lima, que era o consultor jurídico da Associação e que trabalhou como advogado da CTMR gratuitamente, por quase toda a sua vida.
Curiosamente nunca foi necessário fazer resistência ao coronel Ganzo, quanto ao perigo de encampação, mas sim à empresa estrangeira que em 1926 comprou as ações do Ganzo, e que fez diversas tentativas para adquirir o controle da CTMR e que, pela compra de grande número de ações, quase assumiu o controle acionário, tendo sido impedida pela adição de uma cláusula nos estatutos que limitava em 100 o número de votos por acionista nas assembléias.
O capital inicial da CTMR foi obtido pela venda de ações ao público e futuros usuários, sendo que os acionistas majoritários não exerceram cargos ou a direção da empresa.
Em 6 de fevereiro de 1922, três anos após sua fundação, a CTMR iniciava a operação com equipamentos mais modernos e com maior quantidade de terminais que os da Companhia Telephonica Rio-grandense, pois esta usava telefones a magneto (de manivela, que precisavam de uma bateria junto ao aparelho), enquanto a nova companhia usava telefones de bateria central (bastava levantar o fone do gancho para ser atendido pela telefonista). Os telefones da CTMR, entretanto, não davam acesso às ligações interurbanas, o que levou muitos usuários a terem telefones das duas empresas.
No ano de 1941, o extinto Ministério do Interior, que regulava os assuntos relativos à  telefonia, publicou uma portaria que obrigava as empresas de telecomunicações a terem tráfego mútuo. Fato que motivou a Companhia Telephonica Rio-grandense a se retirar de Pelotas, sendo sua rede encampada pela CTMR, que em troca lhe passou o serviço que possuía na cidade de São Lourenço do Sul.
Com a retirada da Companhia Telephonica Rio-grandense, um maior número de usuários passou a ter acesso ao serviço interurbano, agora com a qualidade CTMR, gerando em conseqüência um significativo aumento de receita, tendo a empresa que se retirou tido aumento de suas receitas, afirmação feita pelo funcionário da CTR, que uma vez por ano vinha fazer encontro de contas.
A rede de linhas telefônicas, pelo seu grande número, foi, desde o início, constituída principalmente de cabos de chumbo e cobre, com isolamento de papel, colocados em dutos  subterrâneos, e de fios de cobre e arame de aço nas áreas de menor densidade como arrabaldes e área rural, onde diversas localidades passaram a ter pequenas centrais manuais a magneto (bateria local), mais acessíveis para o serviço.
Assim foram instaladas pequenas centrais manuais em localidades como: Fragata, Três Vendas, Areal, Capão do Leão, Retiro, Hidráulica e Monte Bonito em casas que serviam de residências para as telefonistas que as atendiam.
No ano de 1952 iniciou a funcionar a nossa primeira central automática, a qual foi fornecida pela empresa sueca Ericsson, a qual era constituída 5.000 terminais de equipamento muito robusto e de baixa necessidade de manutenção, não mais passo a passo, como a maioria dos equipamentos da época, mas por comando indireto feito por conversores Crossbar. Na ocasião,o velho equipamento manual foi desmontado e vendido à CTR e instalado no bairro Teresópolis em Porto Alegre.
A partir de 1965 com a criação de Embratel e 1972, com a criação das Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás), o país passou a viver um novo momento nas telecomunicações. Nesta época, com o uso dos recursos do Fundo Nacional de Telecomunicações, começou a ser implantado o sistema de discagem à distância e diversas telefônicas estaduais foram encampadas pela Telebrás, promovendo desta maneira grande crescimento e melhorias na telefonia nacional. Havia então forte tendência de a Telebrás assumir a maioria das empresas de telecomunicações no Brasil, pelo que a direção da CTMR, tendo necessidade de expandir e necessitando para tal de capital, julgou conveniente abrir a restrição estatutária para que a Telebrás pudesse investir e posteriormente assumir o controle acionário local. Foi assim iniciada uma grande expansão local, com a construção de muitas redes locais e a implantação das centrais de Fragata, Três Vendas, Morro Redondo, Laranjal e simultaneamente ampliando a central centro, todas com o moderno equipamento Crossbar. Esta expansão, feita com capital proveniente do Fundo Nacional de Telecomunicações, levou a Telebrás a se tornar acionista majoritária em 1977.
No ano de 1998, as Telefônicas brasileiras foram privatizadas, fazendo a CTMR parte de um pacote de empresas do sul do Brasil, adquirido por um grupo que assumiu o nome de Brasil Telecom, posteriormente adquirido pela Oi.
Em todos os anos de minha atuação na CTMR pude constatar o espírito de pioneirismo que aqui imperava, caracterizado pelo uso de equipamentos de qualidade, e até inéditos no Brasil. Este fato, aliado à  excelência do atendimento aos usuários e pela quase permanente disponibilidade de terminais para instalação, tornaram nossa empresa reconhecida no âmbito das telecomunicações, o que contrastava com a maioria das cidades brasileiras, onde geralmente a espera por um terminal podia ser de anos.
O fato de a CTMR ter se tornado uma empresa pública, ao ter seu controle assumido pela Telebrás, não afetou, para o público, sua maneira de ser vista pela população local, pois por um bom período o quadro diretivo e funcional não sofreu influência da controladora. O mesmo já não aconteceu, quando da privatização, pois por muitos anos ouvi de pessoas da cidade a declaração de sentir saudades do tempo em que a empresa era a CTMR. No entanto, se para Pelotas houve uma leve piora, para o Brasil a privatização trouxe uma sensível melhoria no acesso às facilidades das telecomunicações.
Martin Loges
Leonardo Collares,287




 


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