100 anos CTMR
Um dos empreendimentos
mais importantes da história de Pelotas completa cem anos de fundação no dia 20
de março de 2019.
Como um de seus
ex-presidentes, não poderia deixar passar esta data sem relembrar os fatos
ligados à Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência, muitos dos quais
guardo na memória por ter vivenciado, ou por ter ouvido relato de protagonistas
da fundação, tais como o Dr. Bruno de Mendonça Lima, o ex-diretor Sr. Manoel
Rodrigues Gomes e o acionista Sr Ari Xavier.
Esta é uma história de
pioneirismo e vanguarda que mostra bem o espírito público de lideranças de
nossa cidade no início do século 20.
A segunda metade do
século XIX viu surgir a invenção do telefone, que logo começou a ser instalado
em todo o mundo. O Brasil, graças ao espírito progressista de D. Pedro II, foi
dos primeiros países do mundo a usufruir deste avanço, sendo que,já em 1877,o
Rio de Janeiro passou a contar com esta inovação, a qual chegou a Pelotas em
1888, através da União Telefônica.
Nos anos de 1918 a 1919,
o serviço telefônico em nossa cidade era explorado pelo uruguaio Juan Ganzo
Fernández, através de sua Companhia Telephonica Rio-grandense, que também
explorava o serviço telefônico em Porto Alegre e vinha comprando os serviços
telefônicos de muitas cidades do Rio Grande do Sul. Nesta época, o coronel
Ganzo, como também era chamado, aumentou as tarifas do serviço, tendo com isto
causado descontentamento dos usuários da cidade, que reivindicaram a baixa nos
preços e a melhoria da qualidade. A resposta do coronel Ganzo, foi de “que não iria baixar o preço e que nem faria
as melhorias pretendidas”, ao que foi-lhe dito, “que iríamos fundar uma companhia telefônica própria”, tendo este
replicado “que poderiam fazê-lo, pois
acabariam sendo encampados por ele”.
Desta conversa surgiu o
nome de Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência - CTMR, pois se
pretendia instalar um serviço de melhor qualidade e resistir a uma eventual
encampação por parte do coronel Ganzo. Assim, em 20 de março de 1919, foi fundada
na Associação Comercial de Pelotas a nossa telefônica, sendo os primeiros
estatutos elaborados pelo Dr. Bruno de Mendonça Lima, que era o consultor
jurídico da Associação e que trabalhou como advogado da CTMR gratuitamente, por
quase toda a sua vida.
Curiosamente nunca foi
necessário fazer resistência ao coronel Ganzo, quanto ao perigo de encampação,
mas sim à empresa estrangeira que em 1926 comprou as ações do Ganzo, e que fez
diversas tentativas para adquirir o controle da CTMR e que, pela compra de
grande número de ações, quase assumiu o controle acionário, tendo sido impedida
pela adição de uma cláusula nos estatutos que limitava em 100 o número de votos
por acionista nas assembléias.
O capital inicial da CTMR
foi obtido pela venda de ações ao público e futuros usuários, sendo que os
acionistas majoritários não exerceram cargos ou a direção da empresa.
Em 6 de fevereiro de
1922, três anos após sua fundação, a CTMR iniciava a operação com equipamentos
mais modernos e com maior quantidade de terminais que os da Companhia
Telephonica Rio-grandense, pois esta usava telefones a magneto (de manivela,
que precisavam de uma bateria junto ao aparelho), enquanto a nova companhia
usava telefones de bateria central (bastava levantar o fone do gancho para ser atendido
pela telefonista). Os telefones da CTMR, entretanto, não davam acesso às
ligações interurbanas, o que levou muitos usuários a terem telefones das duas
empresas.
No ano de 1941, o extinto
Ministério do Interior, que regulava os assuntos relativos à telefonia, publicou uma portaria que obrigava
as empresas de telecomunicações a terem tráfego mútuo. Fato que motivou a
Companhia Telephonica Rio-grandense a se retirar de Pelotas, sendo sua rede
encampada pela CTMR, que em troca lhe passou o serviço que possuía na cidade de
São Lourenço do Sul.
Com a retirada da
Companhia Telephonica Rio-grandense, um maior número de usuários passou a ter
acesso ao serviço interurbano, agora com a qualidade CTMR, gerando em
conseqüência um significativo aumento de receita, tendo a empresa que se
retirou tido aumento de suas receitas, afirmação feita pelo funcionário da CTR,
que uma vez por ano vinha fazer encontro de contas.
A rede de linhas
telefônicas, pelo seu grande número, foi, desde o início, constituída
principalmente de cabos de chumbo e cobre, com isolamento de papel, colocados
em dutos subterrâneos, e de fios de
cobre e arame de aço nas áreas de menor densidade como arrabaldes e área rural,
onde diversas localidades passaram a ter pequenas centrais manuais a magneto
(bateria local), mais acessíveis para o serviço.
Assim foram instaladas
pequenas centrais manuais em localidades como: Fragata, Três Vendas, Areal,
Capão do Leão, Retiro, Hidráulica e Monte Bonito em casas que serviam de
residências para as telefonistas que as atendiam.
No ano de 1952 iniciou a
funcionar a nossa primeira central automática, a qual foi fornecida pela
empresa sueca Ericsson, a qual era constituída 5.000 terminais de equipamento
muito robusto e de baixa necessidade de manutenção, não mais passo a passo,
como a maioria dos equipamentos da época, mas por comando indireto feito por
conversores Crossbar. Na ocasião,o velho equipamento manual foi desmontado e
vendido à CTR e instalado no bairro Teresópolis em Porto Alegre.
A partir de 1965 com a
criação de Embratel e 1972, com a criação das Telecomunicações Brasileiras S.A.
(Telebrás), o país passou a viver um novo momento nas telecomunicações. Nesta
época, com o uso dos recursos do Fundo Nacional de Telecomunicações, começou a
ser implantado o sistema de discagem à distância e diversas telefônicas
estaduais foram encampadas pela Telebrás, promovendo desta maneira grande
crescimento e melhorias na telefonia nacional. Havia então forte tendência de a
Telebrás assumir a maioria das empresas de telecomunicações no Brasil, pelo que
a direção da CTMR, tendo necessidade de expandir e necessitando para tal de
capital, julgou conveniente abrir a restrição estatutária para que a Telebrás
pudesse investir e posteriormente assumir o controle acionário local. Foi assim
iniciada uma grande expansão local, com a construção de muitas redes locais e a
implantação das centrais de Fragata, Três Vendas, Morro Redondo, Laranjal e
simultaneamente ampliando a central centro, todas com o moderno equipamento
Crossbar. Esta expansão, feita com capital proveniente do Fundo Nacional de
Telecomunicações, levou a Telebrás a se tornar acionista majoritária em 1977.
No ano de 1998, as
Telefônicas brasileiras foram privatizadas, fazendo a CTMR parte de um pacote
de empresas do sul do Brasil, adquirido por um grupo que assumiu o nome de
Brasil Telecom, posteriormente adquirido pela Oi.
Em todos os anos de minha
atuação na CTMR pude constatar o espírito de pioneirismo que aqui imperava,
caracterizado pelo uso de equipamentos de qualidade, e até inéditos no Brasil.
Este fato, aliado à excelência do
atendimento aos usuários e pela quase permanente disponibilidade de terminais
para instalação, tornaram nossa empresa reconhecida no âmbito das telecomunicações,
o que contrastava com a maioria das cidades brasileiras, onde geralmente a
espera por um terminal podia ser de anos.
O fato de a CTMR ter se
tornado uma empresa pública, ao ter seu controle assumido pela Telebrás, não
afetou, para o público, sua maneira de ser vista pela população local, pois por
um bom período o quadro diretivo e funcional não sofreu influência da
controladora. O mesmo já não aconteceu, quando da privatização, pois por muitos
anos ouvi de pessoas da cidade a declaração de sentir saudades do tempo em que
a empresa era a CTMR. No entanto, se para Pelotas houve uma leve piora, para o
Brasil a privatização trouxe uma sensível melhoria no acesso às facilidades das
telecomunicações.
Martin Loges
Leonardo Collares,287