Cooperativa de Catadores da Vila Castilho melhora a vida de famílias ao contribuir com a cidade
Por: Leandro Lopes
leandro.lopes@diariopopular.com.br
O que representa o lixo para você? Algo
inútil, que deve ser descartado? Algo sem serventia? Para famílias como a
do seu Jair é bem mais do que isso.
Presidente da Cooperativa de Catadores
da Vila Castilho (COOPCVC), Jair Moreira trabalhou por mais de 15 anos
no aterro municipal, próximo à rua Marcílio Dias. Revirando o entulho
ele sempre lutou para melhorar as condições de vida dos familiares,
enfrentando intempéries e se expondo diariamente a riscos. “Nós sempre
íamos pra lá à noite, com chuva, frio, tanto faz, não tinha tempo ruim.
Precisávamos estar lá, dependíamos disso pra sobreviver. O lixo sempre
foi nossa fonte de renda.”
Trabalho na cooperativa torna viável a reciclagem de resíduos (Foto: Leandro Lopes - DP)
Em 2012 o aterro foi fechado pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Mas o que poderia ser o
fim para os que frequentavam o espaço foi, na verdade, um recomeço. As
cooperativas de reciclagem ganharam força na cidade. Depois de alguns
entraves administrativos, neste período foi formada a COOPCVC.
Esteira doada pelo Rotary acelera o processo e facilita a vida dos cooperados (Foto: Leandro Lopes - DP)
Enquanto fala sobre a estrutura montada
com muito esforço e suor, Jair sorri e contempla as paredes do galpão,
na rua Doutor Amarante. “Desde que começamos a trabalhar na cooperativa
nossas condições de vida melhoraram muito. No aterro nós não vivíamos.
Agora tudo mudou. Podemos dormir, mexemos com um lixo mais limpo,
resíduos melhores, e assim podemos ficar mais tempo com os nossos
filhos, nossa família”, conta, sem disfarçar a satisfação.
Enquanto no aterro o trabalho era muitas
vezes individual, no galpão todos os 14 funcionários aprenderam o real
sentido do verbo “cooperar”. Segundo Jair, juntos todos trabalham com
mais vontade, um ajudando o outro. “Formamos uma família”, resume.
Esteira doada pelo Rotary acelera o processo e facilita a vida dos cooperados (Foto: Leandro Lopes - DP)
E
quando se fala em “família” na COOPCVC não é apenas no sentido figurado.
Ana Paula, esposa de Jair, também trabalha no local. A exemplo do
marido, ela fala do serviço com orgulho. “O lixo é dinheiro. É uma ação
que fazemos pra ter lucro, mas que não beneficia apenas o nosso grupo. O
material que é recebido aqui nós classificamos, reciclamos e mandamos
pra fora. Assim ele não entope as valetas e não polui a cidade.”
Ajuda necessária e reconhecida
Através de convênios e parcerias, a associação foi passando por mudanças significativas ao longo dos anos. O Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep) oferece uma bolsa mensal às cooperativas. O valor é destinado para remunerações e pagamento de custos fixos, como aluguel do prédio e energia elétrica. A quantia, segundo Jair, é fundamental para a continuidade do trabalho. “Esse repasse do Sanep é uma grande ajuda. Sem isso nós não conseguiríamos nos manter.”
Para o diretor-presidente da autarquia,
Jacques Reydams, o bom resultado do serviço realizado na COOPCVC é, da
mesma forma, fundamental à cidade. Um departamento acompanha a gestão
das cooperativas e a da Vila Castilho tem resultados surpreendentes.
Conseguiu inserir o trabalhador na sociedade e oferecer uma boa
perspectiva e qualidade de vida às pessoas.
Cooperados pedem que população separe o lixo; material não reciclável chega com frequência na COOPCVC (Foto: Leandro Lopes - DP)
O Sanep investe também nas outras quatro cooperativas de reciclagem de Pelotas.
Os resultados obtidos vêm orgulhando o poder público. “Eles cresceram
muito. Uma outra associação, localizada na Pinheiro Machado, já tem duas
viaturas próprias. Todos têm condições de melhorar e aumentar suas
capacidades de reciclagem e isso é espetacular para nós. Junto com a
prefeitura vamos continuar investindo e pretendemos montar mais uma
cooperativa. Isso significa menos descarte no meio ambiente. É
supergratificante”, diz Reydams.
Cada vez mais prefeituras estão
investindo em usinas de reciclagem. O reaproveitamento de resíduos de
construção pode reduzir custos na aquisição de materiais aplicados em
obras como, por exemplo, a pavimentação de vias públicas.
Resíduos chegam à cooperativa pela Coleta Seletiva e doações da comunidade (Foto: Leandro Lopes - DP)
Quem também acompanha com orgulho a
produção dos cooperados da Vila Castilho é o Rotary Club Pelotas Norte. A
entidade realizou a compra do maquinário utilizado pelos funcionários
da COOPCVC em todo o processo de reciclagem. Entre os equipamentos
adquiridos estão uma prensa e uma esteira, que influenciam diretamente
na qualidade do trabalho desenvolvido na cooperativa. O manuseio dos
resíduos, antes e depois de selecionados, ficou mais fácil e saudável.
Um dos diretores do Rotary, que preferiu
não se identificar, diz que poder auxiliar no crescimento das pessoas é
a maior alegria para os associados. “Ajudar o próximo não tira pedaço.
Cada vez mais ficamos contentes por poder fazer isso. Pudemos dar esses
equipamentos e, aos poucos, eles também estão adquirindo outros. Isso é
importante, não é apenas a questão da doação, mas sim de melhorar a
qualidade de vida de pessoas que se empenham e querem ser ajudadas.
Admiramos muito aqueles trabalhadores”, diz.
Jair trabalhou 15 anos no aterro municipal; ele é o presidente da COOPCVC (Foto: Leandro Lopes - DP)
E esta admiração dos rotarianos não se
materializa “apenas” nos materiais ofertados. O presidente da COOPVCV
ganhou, em outubro de 2015, um diploma de reconhecimento profissional
oferecido pelo Rotary. Reconhecimento este que pode ser percebido nas
ruas. “A comunidade nos cumprimenta, nos agradece. É emocionante.
Sentimos que nosso trabalho faz diferença. Isso é a coisa mais
importante”, garante Jair.
É possível melhorar
Para
que a cooperativa da Vila Castilho e as demais associações da cidade
possam dar sequência ao trabalho de reciclagem é importante que a
comunidade também ajude.
Jair ressalta que a COOPCVC recebe
resíduos de duas formas: através de doações e pela Coleta Seletiva. De
acordo com Reydams, nos últimos três anos vem sendo recolhida a mesma
quantidade de resíduos por mês em Pelotas: 150 toneladas. O número ainda
é pequeno perto das 4,8 mil toneladas mensais produzidas na cidade.
“Temos um potencial de crescimento muito grande. Com o empenho da
comunidade teremos menos descarte em aterros e mais renda para as
cooperativas, que podem beneficiar - cada uma - até 20 famílias.”
Separar e doar os resíduos para
cooperativas como a da Vila Castilho pode representar uma cidade mais
limpa, um meio ambiente menos poluído e muito mais sorrisos sinceros de
trabalhadores, como o Jair.
Nenhum comentário:
Postar um comentário